"Ao contrário do que dizem, não estou mais gordo!"
Mal acabo de pôr os pés no chão, para aceder ao tabuleiro da Ponte 25 de Abril, sinto algo a chover perto de mim. Não é chuva, muito menos granizo e nem sequer os habituais agasalhos que os atletas levam para se proteger do frio antes de iniciar a corrida. Fruta? Será? Provavelmente e destina-se ao primeiro-ministro. Acaba por acertar no médico João Paço, entusiasta do Clube Stress. E Sócrates até lhe pede desculpas. OK, é assim uma minimaratona na comitiva do PM. Estão abertas as hostilidades.
Esta não é a minha primeira "mini"... no atletismo. A diferença é que desta vez vou tentar acompanhar os atletas do Clube Stress, que estão sempre com o primeiro--ministro (PM) nestas andanças. O que quer dizer que terei de correr a totalidade dos 7,2 quilómetros da Meia Maratona de Lisboa.
Um transporte quase privativo leva-nos à zona de partida. 22 de Março, 09.30, tempo mais que suficiente para José Sócrates aceder aos pedidos dos atletas de circunstância para tirar uma foto de família. Ele não se faz rogado e até é pessoa para agarrar no balãozinho para que o cidadão votante saque da máquina fotográfica ou do telemóvel e prima o botão. Ou este pede a alguém da comitiva do Executivo para tirar a tão desejada foto. E, nisso, a governadora civil de Lisboa revelou estar à altura. Dalila Araújo foi a fotógrafa de serviço.
Há brincalhões para tudo. O campónio no burrito, o bispo que abençoa Sócrates, o palhaço que distrai, cabeleiras e óculos com olhos garrafais nas lentes, estes últimos o acessório de moda desta XIX Meia Maratona de Lisboa. E, claro, piadas ao Magalhães, aos salários e à avaliação. Sócrates dá entrevistas, conversa, corre...
"Ao vivo é que se vê a idade dele [Sócrates], tem 60 anos. Olha os cabelos brancos", exclama uma avó. Não são tantos anos e preciso de confirmar se ouvi bem: Quantos anos ? "60!", diz, peremptória.
Faltam 15 minutos para o início da corrida, às 10.30. Já o vereador do Ambiente de Câmara de Lisboa cumprimentara o PM. Sá Fernandes admite não ter pedalada para Sócrates, afirmação que frisa adequar-se apenas ao atletismo
É dada a largada e os primeiros cinco minutos são a passo e a fazer slalom entre os participantes, 35 mil este ano, um recorde. Começa, então, a verdadeira minimaratona. Pernas para que vos quero!.
"Força!" Força Sócrates! E não apenas para esta corrida!", é o tipo de comentário mais simpático que o PM vai ouvindo. E até pode responder: "Estou a dar o meu melhor!" Mas, também, apanha com outros que se adivinham irritantes, do tipo: "Força, Pinóquio!" Silêncio na comitiva. E há, ainda, quem aproveite para reclamar: "Não há segurança nenhuma na Ponte!!!"
E, nem a propósito, meto o pé num buraco na descida da Ponte para Alcântara. Esforço triplicado para não me estatelar no chão e, mais ainda, para acabar a corrida. E, logo agora, que a comitiva de Sócrates resolve acelerar o passo, como fazem os "pró". Eu que, que numa corrida normal, já percorro esta última distância mais vezes a andar do que a correr. É que a Avenida da Índia parece que nunca mais tem fim! "Quantos quilómetros faltam? Não há nada que diga quantos quilómetros faltam?", grito, já em sofrimento. E ainda tenho de telefonar para o repórter fotográfico e dizer que estou a chegar.
O PM admira o esforço da atleta-jornalista na pele de... e os membros do clube "sem stress" dão dicas: "Não pense na distância. Beba um pouco de água." Pois, mas, com os avisos das equipas de abastecimento: "Não parem, não parem. Há mais abastecimento à frente!", deixei passar mais metros do que devia e fiquei sem bebida. E agora? Uma alma caridosa dá- -me água. E a Avenida da Índia nunca mais acaba!
Cerro os punhos e deixo de pensar, até à meta, por fim. Cheguei! 57 minutos, tempo final. Os holofotes esperam pelo PM, que faz questão de esclarecer: "Estou em forma. Ao contrário do que dizem, não estou mais gordo após deixar de fumar. Isso não é mau!"